domingo, 23 de setembro de 2007

À segunda foi de vez - o meu primeiro concerto, em 1986

A 5 de Dezembro de 1986, quando os Iron Maiden actuaram em Portugal pela segunda vez, eu não podia faltar à chamada. Queria esquecer o desaire sofrido na estreia da banda em Cascais. No entanto, suei muito para convencer os progenitores a deixarem-me ir. A estratégia de sabotagem que o meu irmão usou para tentar demovê-los da ideia quase resultou, mas, face à ameaça de que eu fugiria de casa para ver o concerto, deram-me carta branca.
Decorria a Somewhere on Tour 86/87, digressão promocional ao fantástico Somewhere in Time, primeiro álbum em que o grupo usou guitarras sintetizadas. Na noite anterior ao show quase não dormi, devido à excitação. Aliás, nos dois meses que antecederam o evento não consegui pensar em mais nada. Afinal, os Iron Maiden e os W.A.S.P. eram as minhas bandas favoritas, pelo que um jovem headbanger não poderia querer melhor estreia nas lides dos concertos.

Adquiri o bilhete para o evento no dia em que foi posto à venda (como desde então se tornou hábito) na discoteca Motor (mais tarde Bimotor), então a "meca" para aquisição das últimas novidades discográficas, bilhetes para concertos, fanzines e demo-tapes.

  A viagem de comboio para Cascais foi alucinante. As carruagens cheias de headbangers "fardados" a rigor, com blusões de cabedal e / ou ganga repletos de badges, dorsais e crachás das bandas favoritas. As pulseiras e cintos de pregos, bem como as correntes, abundavam também. Aterrorizados, os restantes passageiros temiam pela sua integridade física.

Era enorme a ansiedade para este concerto. Minha e de todos os fãs, não só porque os Iron Maiden eram, há muito, estrelas mundiais e os representantes máximos da New Wave of British Heavy Metal (NWoBHM), mas também porque o último concerto de Heavy realizado em Portugal havia sido precisamente o dos Maiden, dois anos antes, a 1 de Setembro de 1984. Compreensivelmente, o público ansiava pelo evento.

A entrada para o concerto foi caótica. Cheguei a Cascais por volta das 19:30h com uma troupe de 10 pessoas. A confusão era geral. Em pouco tempo deixou de haver filas, para se criar uma massa de gente que a polícia não conseguiu re-organizar em fila. Ao invés de uma só entrada(a lateral, como era hábito), a Tournée (promotora a que devemos uma enorme percentagem dos concertos de primeira linha a que Portugal assistiu nos anos 80 e a maior parte dos 90) decidiu abrir aquela que funcionava habitualmente como porta de saída, localizada nas traseiras do pavilhão.

Lembro-me que, a dada altura, quase fiquei esmagado contra a parede, a escassos metros da entrada. Uma vez no interior do pavilhão dirigi-me às bancadas do lado direito, que permitiam uma boa visibilidade (e nas quais haveria de assisitir aos restantes concertos no Dramático, à excepção do espectáculo dos Motorhead, Girlschool e Destruction, em 1988, onde, por motivos que mais tarde conhecerão, "assentei arraiais" noutro local da sala).

No próprio dia, através da imprensa, ficámos a saber que os Jarojupe, de Viana do Castelo, anunciados para abrir as hostilidades, não chegariam a subir ao palco. Motivo: necessidade de as bandas principais alargarem o tempo de sound-check.

Cheio que nem um ovo, o pavilhão oferecia uma imagem impressionante. Recebidas em histeria, as bandas assinaram prestações de luxo. Com efeitos especiais e de pirotecnia a rodos, o Dramático de Cascais assistia a um dos melhores espectáculos que alguma vez aí se tinham realizado ou iriam realizar. Durante meses continuei a recordar as imagens e sons do espectáculo, à saída do qual eu sabia que aquele pavilhão iria tornar-se a minha segunda casa.

Muito se escreveu na imprensa sobre o evento. Nalguns desses artigos a linguagem jornalística exprime uma certa incredulidade e até respeito (não fossem os Iron Maiden perseguir os jornalistas e torturá-los) face à música e aparato cénico do quinteto. Enfim, vivam-se tempos de marginalização do Heavy Metal e seus fãs.

5 comentários:

Unknown disse...

Ora aqui está mais um Blog que não vou deixar de consultar periodicamente. Mais uma excelente iniciativa Sr Dico, pois para além de vivermos no presente é tão bom recordar o passado. Os textos estão formidaveis e ficamos com uma pequena ideia de como foi, ideias que nos transportam para estas e outras recordações que há muito estavam guardadas.

Obrigado e Parabens por este novo blog

Rui Martins

Anónimo disse...

Eu vi-os dois anos antes no Porto, no velhinho Infante de Sagres. Nesta altura, quando uma banda vinha a Portugal, o país ficava em sentido. O Pessoal andava meses à espera do grande dia e depois até dava no Telejornal. Agora, as bandas vêm cá e um tipo só sabe depois. Sinais dos tempos. Não sei se é melhor ou pior, mas é diferente.

Unknown disse...

Bom dia

Parabens pelo espaço, gostaria muio de adicionar os arquivos aqui presentes na nova pagina portuguesa de fans dos iron Maiden.
Caso seja possivel gostaria de ter a sua permissão para o fazer. Pode entrar em contacto para o email maidenfanspt@gmail.com

a pagina é a seguinte;
www.maidenfanspt.com

João Azevedo disse...

Boas,


Tchhhhh, lembro-me como se fosse hoje, foi a loucura no comboio Lisboa-Cascais, nas imediações, lá dentro, foi fabuloso, tinha 14 anos ;) Gostei muito de ver W.A.S.P. e os meus Iron Maiden,foi e é inesquecivel. Confesso que os Iron Maiden, passados 24 anos, fizeram-me sentir quase o mesmo no fest. super bock, na somewhere back on tour, à 2 anos.

lmv disse...

Tambem foi o meu primeiro concerto...parabens pelo blog
e foi exactamente assim GRANDE NOITE EM CASCAIS...