Decorria a Somewhere on Tour 86/87, digressão promocional ao fantástico Somewhere in Time, primeiro álbum em que o grupo usou guitarras sintetizadas. Na noite anterior ao show quase não dormi, devido à excitação. Aliás, nos dois meses que antecederam o evento não consegui pensar em mais nada. Afinal, os Iron Maiden e os W.A.S.P. eram as minhas bandas favoritas, pelo que um jovem headbanger não poderia querer melhor estreia nas lides dos concertos.
Adquiri o bilhete para o evento no dia em que foi posto à venda (como desde então se tornou hábito) na discoteca Motor (mais tarde Bimotor), então a "meca" para aquisição das últimas novidades discográficas, bilhetes para concertos, fanzines e demo-tapes.

Era enorme a ansiedade para este concerto. Minha e de todos os fãs, não só porque os Iron Maiden eram, há muito, estrelas mundiais e os representantes máximos da New Wave of British Heavy Metal (NWoBHM), mas também porque o último concerto de Heavy realizado em Portugal havia sido precisamente o dos Maiden, dois anos antes, a 1 de Setembro de 1984. Compreensivelmente, o público ansiava pelo evento.
A entrada para o concerto foi caótica. Cheguei a Cascais por volta das 19:30h com uma troupe de 10 pessoas. A confusão era geral. Em pouco tempo deixou de haver filas, para se criar uma massa de gente que a polícia não conseguiu re-organizar em fila. Ao invés de uma só entrada(a lateral, como era hábito), a Tournée (promotora a que devemos uma enorme percentagem dos concertos de primeira linha a que Portugal assistiu nos anos 80 e a maior parte dos 90) decidiu abrir aquela que funcionava habitualmente como porta de saída, localizada nas traseiras do pavilhão.
Lembro-me que, a dada altura, quase fiquei esmagado contra a parede, a escassos metros da entrada. Uma vez no interior do pavilhão dirigi-me às bancadas do lado direito, que permitiam uma boa visibilidade (e nas quais haveria de assisitir aos restantes concertos no Dramático, à excepção do espectáculo dos Motorhead, Girlschool e Destruction, em 1988, onde, por motivos que mais tarde conhecerão, "assentei arraiais" noutro local da sala).
No próprio dia, através da imprensa, ficámos a saber que os Jarojupe, de Viana do Castelo, anunciados para abrir as hostilidades, não chegariam a subir ao palco. Motivo: necessidade de as bandas principais alargarem o tempo de sound-check.
Cheio que nem um ovo, o pavilhão oferecia uma imagem impressionante. Recebidas em histeria, as bandas assinaram prestações de luxo. Com efeitos especiais e de pirotecnia a rodos, o Dramático de Cascais assistia a um dos melhores espectáculos que alguma vez aí se tinham realizado ou iriam realizar. Durante meses continuei a recordar as imagens e sons do espectáculo, à saída do qual eu sabia que aquele pavilhão iria tornar-se a minha segunda casa.
Muito se escreveu na imprensa sobre o evento. Nalguns desses artigos a linguagem jornalística exprime uma certa incredulidade e até respeito (não fossem os Iron Maiden perseguir os jornalistas e torturá-los) face à música e aparato cénico do quinteto. Enfim, vivam-se tempos de marginalização do Heavy Metal e seus fãs.






